ECOS: 14. a mentira da democracia

Manu Chao (Jose-Manuel Thomas Arthur Chao) é um músico francês, nascido em Paris a 21 de junho de 1961. Sobre ele, diz a Wikipédia que é filho de “um conhecido escritor galego, Ramón Chao. Manu cresceu bilíngue, influenciado pela crescente cena punk que se desenvolvia na França”. “No Brasil [e eu acrescentaria que tal como em outros países], o seu maior sucesso é “Me Gustas Tu”.

Em 1968, a Virgin editou o seu primeiro álbum a solo: Clandestino. Uma das faixas é Mentira:

Sobre ela, diria Manu, em entrevista à Mondo Sonoro nº 41 (maio/1998):

“Eu acredito nas pessoas. É o que me resta, acreditar nas pessoas, porque já não posso acreditar em nenhum discurso.. Quando no disco digo que ‘Tudo é mentira’ é porque vejo tudo como mentira. Que estão a enganar-nos em tudo. Há para aí uns dez anos, havia gente que não se dava conta do que acontecia, mas outros, que já possuíam a lucidez suficiente, denunciavam coisas. Agora, no entanto, é algo generalizado.  Onde quer que estejamos, tanto no Nordeste do Brasil como num bar com intelectuais em Madrid ou com uns moços de Marselha, toda a gente tem já lucidez suficiente para se dar conta de que estão gozando connosco de uma maneira evidente e as pessoas começam a entender que vai ser necessário mexer-se para encontrar soluções” […]

“A democracia é uma grande mentira, é a grande mentira básica. Face a isto, o que é que se pode fazer? Eu penso que há que trabalhar a dois níveis. Por um lado, está o facto de ter lucidez e, por outro, há que fazer constar que estamos a viver uma época grave. Como consequência dessa constatação podemos conseguir que cada vez haja mais pessoas no mundo a dar-se conta da situação real”. […]

“O mais fodido é que haja muita gente que constata que tudo está mal mas os únicos povos de organização são povos perigosos. As pessoas estão perdidas e a mesa está posta para os extremistas. A extrema-direita em França, o islamismo integrista na Argélia, as seitas no Brasil, e o pior de tudo é que são os mais organizados, os mais mentirosos. Aproveitam-se do facto de muita gente estar perdida e eu também me sinto perdido. Há uma frase em ‘Desaparecido’, o segundo tema do disco, que diz ‘perdido en el siglo’ [perdido no século] e é que realmente sinto-me perdido no século e portanto há que procurar soluções cada qual ao seu nível”.

A faixa Desaparecido soa assim:

Pergunto ao meu leitor se concorda com Manu Chao, para quem “Tudo é mentira neste mundo”; “Mentira não se apaga / Mentira não se esquece”; “Mentira o amor / Mentira o sabor”; “Mentira a que manda / Mentira comanda”…

…e, já agora, o que acha da música de Manu Chao.

1 thought on “ECOS: 14. a mentira da democracia”

  1. “Mentira la verdad”. Contradição? Só aparente e, na realidade é apenas um oxímoro. “Mentira” e verdade” situam-se em planos diferentes. A primeira no plano dos valores, a segunda no dos factos, cuja facticidade é denunciada como desprovida de valor.

    A afirmação “a democracia é uma grande mentira, é a grande mentira básica” deve ser interpretada à luz do que acima fica dito. As “democracias” são uma caricatura do “governo do povo”.

    E como é que estas considerações sabichonas revelam a sua evidência?Obviamente, na poesia. Cantando: “Mentira la verdad”.

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