Convidei alguns dos meus amigos para nos revelarem os seus top de 2020: livros, filmes, discos, notícias… o que entendessem que mereceria destaque. A seguir, a síntese de Pedro Aparício, Consultor de Sistemas de Informação (SAP) na área Financeira.
Literatura, música e pandemia
A insustentável leveza do Ser
de Milan Kundera
(Lisboa : D. Quixote)
Iniciei a leitura deste livro sem qualquer expectativa ou referência e, quando dou por ela, vejo-me entusiasmado com uma trama que, apesar de ter sido escrita há tantos anos, se torna tão atual.
Entre alguns temas dados a reflexão, destaco a Liberdade (ou falta dela). Qual fluxo de águas cristalinas, este romance demonstra-nos com clareza a importância de nascer, crescer e viver em Liberdade. Quando dela abdicamos, somos simplesmente um corpo, desprovido de alma, a deambular pelo tempo enquanto nos entretemos com uma qualquer e insignificante atividade secular, à espera que chegue a nossa hora.
Por vezes, a ausência de Liberdade tem influência direta no abstencionismo de viver, que se revela através de um conformismo que nos tolda a força.
Uma surpresa muito agradável, que ganha outro destaque por ter sido lido no ano em que nos vimos limitados na nossa Liberdade.
O enredo inspiraria a Philip Kaufman a realização de um filme, com o mesmo título do livro.
Música: Dia da Procissão
Letra: Miguel Araújo
Música: Miguel Araújo e António Zambujo
Destaco esta música pela simplicidade associada aos seus autores, que aprecio em particular, mas acima de tudo porque nela ouço e visualizo a beleza do património cultural existente em Portugal. Um maiato cria uma música em conjunto com um bejense onde passam em revista alguns dos principais eventos e atividades da cultura nortenha enquanto nos relembram também que o mundo é global e que dele dependemos.
Um mix cultural simples, atual e, para mim, agradável ao ouvido.
Resiliência: a nossa força…
…num ano de choque profundo, em que muitas vezes parecia que estávamos numa máquina de lavar roupa. Completamente embrulhados nas verdades e vontades de todos e cada um, privados de movimentos, com convivências forçadas sem fim à vista. Tão depressa éramos incentivados a criar novos hábitos, novas rotinas, como logo de seguida eram desconstruídas… Em muitos casos, houve praticamente toda uma reinvenção pessoal, profissional.
Apenas com muita Resiliência nos mantivemos à tona, conseguindo chegar a bom porto.
Professores
Atendendo a todo o apocalipse que se viveu numa fase inicial com o ensino à distância, gostaria de destacar e felicitar todos os professores. De uma forma geral, tiveram uma atitude notável quando aceitaram de braços abertos o desafio da transformação digital, num ritmo frenético.
Destaco também a gestão emocional que tiveram no regresso às salas de aula onde finalmente se constatou que o que foi já não era…
Seria fácil cair na tentação de complicar, mas, na experiência que vivi, foram os primeiros a lutar pela escola e pelos seus alunos.
Teletrabalho vs ensino à distância
Enquanto pai, foi um dos períodos mais difíceis que vivenciei até hoje. Coordenar o teletrabalho a 100%, com duas crianças em níveis de ensino diferentes, foi muito desgastante.
À semelhança dos professores, também os pais que estiveram nesta situação devem ser felicitados.
Pedro Aparício…
…além de ser, profissionalmente, Consultor de Sistemas de Informação (SAP) na área Financeira, é membro do Grupo de Teatro amador Ondas do Campo, está ligado ao associativismo e é politicamente participativo.
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