Pedro Galvão

Pedro Galvão nasceu em Alenquer, passados quase quarenta anos continua a viver em Alenquer, presumivelmente há-de morrer em Alenquer. Tem feito todo o seu percurso académico na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e não vê razões para sair de lá. Dedica-se à filosofia como professor e investigador. Interessa-se por problemas filosóficos tradicionais, especialmente nas áreas da ética e da metafísica. Cultiva a clareza e tem aversão ao pedantismo. Diz que está a acabar um romance de fantasia, mas na verdade ainda lhe falta escrever cerca de um terço da história. Nunca tirou a carta. Nunca voltará a entrar num museu de arte contemporânea.

Está presente na Internet em vários sítios. No seu site, por exemplo.

Baú:

O navio onde viajas tem carga a mais. A ti, coube-te lançar à água dois dos 3 livros que levas (um de filosofia, um de música e um romance).

Pedro Galvão:

Que livros deitaria fora? Seria perfeitamente indiferente, dada a minha resposta à questão seguinte.

B:

Lançados os livros, ficaste com três objetos: o livro, um dvd com o teu filme preferido e um leitor de mp3 com uma coleção dos teus top musicais. Um deles também tem de ir para o fundo do mar.

PG:

Por mim até podiam ir borda fora dois desses objetos. Só faria questão em ficar com o leitor de mp3. Não sei sequer qual é o meu filme preferido. Gosto muito de alguns filmes – Brazil e outros do Terry Gilliam, Manhattan e outros do Woody Allen, a trilogia The Godfather, alguns do Kubrick, Avatar… –, mas não me considero um cinéfilo. Aliás, posso passar meses sem ver um filme. Da música, pelo contrário, estou irremediavelmente dependente. Não trocaria nenhum livro pelas dezenas de álbuns que caberiam no leitor de mp3, até porque reservaria umas centenas de Mb para alguns audiolivros. Aliás, podia lá pôr uma pequena biblioteca em pdf ou epub.

B:

No dia dos namorados, recebeste um cheque-prenda para comprar um cd. Escolhe.

PG:

Não podia ser um vinil? Praticamente já não ouço CD’s, mas ando com saudades do velho gira-discos. Que seja então um LP: Heritage, um álbum de rock progressivo dos Opeth, uma banda sueca. É do ano passado e custa 50£ na Amazon inglesa [nota d’O meu baú: o cd custa 7,99€ na Amazon espanhola]. Ou então a banda sonora do Avatar.

B:

Sabemos que, no dia do teu aniversário, uma das prendas foi a passagem para o formato eletrónico (ebook) de uma obra da tua biblioteca. Segreda-nos qual foi.

PG:

Como ainda não há uma adaptação do Avatar para romance, a escolha seria muito difícil. Teria de excluir todos livros de filosofia, porque só os leio impressos, de lápis em punho. Philip K. Dick seria uma boa opção, mas que livro? O Ubik, está decidido.

B:

Tens de mudar de profissão. Para te compensar de eventuais transtornos, seja qual for a escolha, terás carro (o que preferires), cartão de crédito… e 600 mil euros anuais. Uma condição: tem de ser a profissão que te dê mais gozo (testaremos isso com a máquina do gozo profissional).

PG:

Qualquer coisa que fosse realmente aprazível e só me ocupasse um par de horas por dia. Guarda-florestal, digamos. Depois sobraria muito tempo para aquilo que quero mesmo fazer mas que não me dá gozo quase nenhum: escrever.

B:

A Brigada dos Bons Costumes vai queimar-te a biblioteca toda. Toda, não: permite-te ficar com uma obra apenas.

PG:

Estou aqui a olhar para um livro que me ofereceram há uns dias, a biografia do Luiz Pacheco: Puta que os Pariu. Seria interessante ver a reacção dos homens dessa brigada. (Sermões, de O Meu Pipi, também seria uma hipótese a considerar.)

B:

Os deuses estão fulos com a humanidade: vão destruir todas as cidades. Deixarão apenas ficar uma para tu viveres. Diz-lhes qual há de ficar de pé.

PG:

À partida, a resposta correcta seria Paris. Mas, reduzidas a escombros todas as outras cidades, Paris tornar-se-ia insuportável: toda a gente ia querer andar por lá a passear e isso. Portanto, não há resposta correcta.

B:

Estás condenado a escolher, sem hipótese de abstenção, mas apenas um: Sartre, Nietzsche, Heidegger.

PG:

Escolhia o Heidegger. Não digo é para quê.

B:

Para a ilha deserta, só podes levar um destes três B: Bach (Johann Sebastian), Beethoven, Beatles.

PG:

A última opção é quase insultuosa. A afronta será plenamente reparada, no entanto, se me for concedida a possibilidade de escolher outro B: Anton Brucker. Não havendo essa possibilidade, venha o grande Ludwig van.

B:

Tens pozinhos mágicos que te permitem ressuscitar quem tu quiseres. Duas condições: só os podes usar uma vez; nunca em proveito de qualquer familiar.

PG:

Escolheria ao acaso um dos muitos milhões de seres humanos que tiveram uma vida curta e miserável. Isto na condição de essa pessoa não ressuscitar no Portugal de hoje, pois não quereria correr o risco de ela me processar.

Nota: esta é a décima publicação de uma série de revelações que pedi a alguns dos meus amigos. Leia as de Domingos Faria (a anterior) e de André Barata (a seguinte).

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