Factfulness = Factualidade : dez razões pelas quais estamos errados acerca do mundo e porque as coisas estão melhor do que pensamos
de Hans Rosling, Anna Rosling Rönnlund e Ola Rosling
Tradução de Pedro Vidal
Lisboa : Temas e Debates, 2019, 336 pp.
Acautele-se o leitor que decida abrir Facfulness, o livro onde Hans Rosling condensou a sua experiência de uma vida como médico, investigador, professor e reputado conferencista de Saúde Internacional, com a colaboração do filho Ola e da nora Anna, que se encarregaram mais especificamente da análise de dados, dos gráficos e das explicações visuais! Acautele-se, porque é real o risco de as mais de trezentas páginas despertarem sentimentos e impressões diversos, eventualmente contrários, e até mesmo, em alguns casos e pelo menos num primeiro momento, desconfortáveis.
Começa assim uma recensão a Facfulness, que escrevi para a Crítica. A lista dos “sentimentos e impressões” começa com os sonantes elogios (e recomendações) que o livro recebe da parte de publicações como Nature e The Financial Times; ou de personalidades como Obama e Melinda e Bill Gates. E eu, que sou avesso a bestsellers…
O desconforto provocado por Factfulness
Uma segunda sensação (de desconforto) foi provocada por um teste inicial, que desperta no leitor (que despertou em mim) a consciência de quão fraco é o “conhecimento acerca do mundo” que temos (não só o público comum como ainda estudantes universitários, cientistas famosos, políticos que tomam decisões que afetam a nossa vida, prémios Nobel, jornalistas, ativistas e investigadores médicos)
Depois, foi a impressão de estar perante (mais) um dos muitos livros de autoajuda que inundam os escaparates e as estantes das livrarias (o próprio termo factfulness sugere um empréstimo de mindfulness, apontando para supostas curas mágicas das nossas infinitas maleitas).
Facfulness é uma das (minhas) leituras mais interessantes de 2020
…e as razões, as principais, estão apontadas na referida recensão, onde desfaço a desconfiança inicial em relação a bestsellers, a este bestseller; tento mostrar o que distingue a proposta de factfulness — da factualidade — da vulgar autoajuda e como pode ela combater a devastadora ignorância global.
Em suma, o livro dos Rosling faz o diagnóstico do (mau) estado do nosso conhecimento acerca do mundo, descobre razões que explicam a nossa “doença cognitiva” e propõe ferramentas para melhorar significativamente o nosso desempenho e mudar completamente a nossa forma de pensar para sempre.
A referida recensão desenvolve estas ideias e aponta a atualidade de Factfulness, uma obra de utilidade pública, num mundo onde têm relevância crescente as fake news, as pós-verdades, as parangonas catastrofistas, os negacionismos, as inteligências emocionais, as instantâneas representações ideologicamente fundadas, os populismos, o instinto de perspetiva única…; onde entretanto alguns avisos de Hans foram comprovados (por exemplo, pela Covid19); onde é urgente espírito crítico (das autoridades indignas desse título, dos hábitos e crenças enraizados, do circo mediático de demagogos políticos, associativos ou comentadores)… e o conhecimento, a verdade, a humildade intelectual — pensando com lógica, rigor e clareza, numa palavra, factualmente (tal como é entendido em Factfulness).
Factfulness foi uma das leituras de Pedro Rodrigues, em 2020.