De Carlos Lopes (1954, Santo Estêvão, Tavira) é a terceira sugestão de leitura (a anterior foi de Aires Almeida). Sobre si próprio escreveu:
Estudou no Liceu de Faro. Acabou a alínea f e marchou para medicina. Abandonou, por questões várias. Licenciou-se em direito, na mesma universidade onde reinava, em 75, o Barroso e Cluny não tinha direito à palavra (não sabe porque lha deram depois…). Exerce advocacia em Tavira. Mais um obscuro advogado de província. Presidente da Casa Álvaro de Campos, fundador da editora Gente Singular, animador cultural.
Analfabeto, lê muito, para disfarçar. Desde Margarida Pinto Rebelo a Martim de Gouveia e Sousa, abalança-se a tudo.
Politicamente oportunista, é emérito militante do MRPP desde 1977. Tal como algumas clientes lhe dizem quando se divorciam, nunca mais quis casamentos. Já no fim da vida, aceitou ser candidato pelo Bloco à câmara de Tavira. A idade não perdoa e isto pode acontecer a qualquer um. Não se riam.
O que ando a ler e como o descobri:
Tenho um amigo que não dorme. Ou melhor, dorme pouco e ataca à noite. Envia poemas da Sophia, do Carlos de Oliveira, cita Marx, Lenine, Mao, Russel, etc. e recomenda livros que eu procuro ler. Tenho de desligar o som do telemóvel… para não acordar a horas a que estou a dormir, ainda que me levante muitas vezes às 4 — e torno a dormir, que fique claro! Recomendou-me e li As velas ardem até ao fim de Sándor Márai (Dom Quixote, 24° edição, 2012).
Por que vale a pena lê-lo:
A história passa-se na Hungria, no princípio do séc. XX. Decorre entre dois amigos e a mulher de um deles, como fonte de equívocos. Tal como em Dom Casmurro, não sabemos bem como as coisas se passaram. O marido, rico, desconfia da traição da mulher com o seu melhor amigo. E a última parte é um longo monólogo, durante a noite, até ser dia e até as velas que os iluminam chegarem ao fim. A mulher havia morrido, mas o marido vivia naquele tormento da traição. Assemelha-se à Grande fuga de Beethoven: um lancinante desabafo.
Onde o tenho lido:
A única coisa que temos fixo é o tempo. O tempo, “esse sapolga”, como dizia um conterrâneo meu, não nos deixa muitas alternativas que não seja aproveitar todas as ocasiões para tentar ler. Mas gosto mais de o fazer atravessado na cama, o livro no chão, o candeeiro ao lado e às tantas da noite (como agora, às 5 da manhã) ou no silêncio cúmplice da noite, sentado à mesa. Apareceu no Ípsilon (?) uma foto de Lawrence Durrell nessa mesma posição. Mas as leituras são ecléticas. Direito, filosofia, ficção, ensaio. E salto muito. Demasiado. Acho que não vou ter tempo para ler o que quero, e vivo nesta ansiedade que me prejudica… a leitura.
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Saiba as razões por que Aires Almeida recomenda a leitura de Guitar Zero – The Science Of Learning To Be Musical, do psicólogo e cientista cognitivo Gary Marcus,
e Rolando Almeida, Porque falham as nações, de Daron Acemoglu e James Robi.