Rolando Almeida: 5 peças de 2020 para a (sua) posteridade

Convidei alguns dos meus amigos para nos revelarem os seus top de 2020: livros, filmes, discos, notícias… o que entendessem que mereceria ser destacado. Seguem-se 5 peças de Rolando Almeida, professor de filosofia no ensino secundário público, na Escola Secundária Jaime Moniz, na ilha da Madeira.


Em outras ocasiões, de Rolando Almeida já ficámos a saber as suas preferências (musicais, filosóficas,…), aqui; quais eram para si os 10 discos marcantes do rock, aqui.


As cinco peças segundo Rolando Almeida

Já todos sabemos que a posteridade lembrar-se-á de 2020 não pelas peças que aqui escolho, mas pela pandemia. Compreende-se. Mas estas 5 peças são um manifesto de subjetivismo embora correspondam a uma ideia que me parece oferecer algumas propriedades interessantes de objetivismo: a liberdade. Algumas coisas mudaram a minha vida em 2020. Foi o primeiro ano inteiro em que não abracei os meus pais, mas também o primeiro ano em que comecei a tomar uma vacina todos os meses para atenuar as minhas alergias a ácaros. Nenhuma destas peças tem relevância para além do que implica na minha própria vida e eventualmente dos que me são mais próximos. Bem, outras peças há que podem ter uma relevância maior. E é este o critério que usei, neste subjetivismo que busca alguma identidade mais objetiva.

Número Um
Telensino

Rolando Almeida e o telensino

Este ano em resultado da pandemia que vivemos fui desafiado na ilha em que resido e pela Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia da RAM para gravar aulas no projeto Telensino. Aceitei o desafio que acabou por marcar a minha vida profissional e também pessoal. Foi um mês intenso de gravações e, dada a emergência do momento e o número de aulas que gravei, não pude fazer qualquer revisão nem direito a teleponto. Num conjunto de 18 aulas (para o 10º e 11º anos), contei 2 enganos que eu próprio detetei enquanto gravava. Os outros, vi como todo o país viu, pela TV aquando da sua exibição. Mas este acontecimento foi importante para mim por outra razão talvez maior e muito mais especial: eu não podia deitar a perder uma oportunidade destas para fazer da filosofia uma atividade pública fora da sala de aula. Espero ter conseguido deixar uma imagem da disciplina honesta e competente. As coisas correram bem e eu agradeci a muitas pessoas. Mas em especial ocorre-me agradecer a muitos alunos. E eles sabem porquê.

Número dois
Pedro Galvão, Três diálogos sobre a morte

(Gradiva)

Não é muito comum ler um livro de filosofia escrito de maneira não académica, mas ao mesmo tempo ao nível do que melhor se faz pelo primeiro mundo da filosofia. E Pedro Galvão conseguiu-o neste livro que é ao mesmo tempo divertido e estimulante enquanto convivemos na leitura com as mais modernas teorias sobre os intrigantes problemas da filosofia da morte. O livro é acompanhado de bonitas ilustrações de Frederico Rogeiro. É, portanto, uma edição a todos os níveis fora de série, surpreendente e resultante do talento e conhecimento do autor.

Número três
Ipad Pro 2018, 11”

Sim, é de 2018, mas foi em 2020 que comprei o Ipad Pro. Confesso que neste momento não sinto necessidade de ter comprado a jóia da coroa da Apple. Um Ipad com especificações mais modestas (e, por conseguinte, preço mais compatível com as minhas possibilidades) chegaria bem para os “gastos”. O Ipad acabou por ser importante na minha vida porque, com ele, fiz de modo completo a transição para a escrita digital. Obviamente com a Apple Pencil 2. 2020 fica assim marcado como o ano em que deixei de vez os cadernos de que tanto gosto. Fiquei com uma pequena prateleira de cadernos Moleskine e Leuchtturn que fui comprando e que dificilmente serão usados. A transição foi pacífica e com mais vantagens que desvantagens. Hoje em dia o Ipad é companhia inseparável e ando sempre com ele, para ler, escrever, ver séries, etc. Resta dizer que a tecnologia ocupa sempre algum lugar de destaque na minha vida, dado que sou um curioso por gadgets.

Número Quatro
Idles, Ultra Mono

Os Idles são uma banda inglesa de rock. A música sempre ocupou uma parte considerável da minha vida. E conheci os Idles pouco antes dos irlandeses Fountains D. C., portanto, acabo sempre a compará-los e, de alguma maneira, associá-los. Esperei os discos novos destas duas bandas em 2020 e estava convencido de que os Fountains haveriam de fazer o meu disco de 2020. Bom, enganei-me! O último disco dos Idles é uma bomba rock com a agressividade própria do género, mas com composições complexas e efeitos subtis. Um disco que marca este ano.

Número cinco
Natação

O filho de Rolando Almeida, campeão  de natação

Sou pai de um adolescente de 13 anos. Ao longo da sua vida eu e a mãe temos tido o cuidado de lhe proporcionar conhecimentos de atividades como arte, ciência, política, arquitetura, etc., mas também desporto. Experimentou basquete, futebol e andebol. Nunca o vi entusiasmado. Mas eu próprio nunca esperei que ele tivesse de ser um desportista avançado. Como resido na ilha da Madeira, as idas a banhos no mar são frequentes. E a mãe sempre o ensinou a nadar. O que eu nunca esperei foi que o meu filho se tornasse em campeão regional e um mariposista fora de série. Foi um ano desportivo muito intenso para o João Francisco. Conseguiu afirmar-se na natação sendo a sua maior especialidade mariposa. Fez os tempos para o campeonato nacional que infelizmente não se realizou devido à pandemia. Não sei do futuro do João na natação, mas como o rapaz um dia me disse (e jamais esquecerei): “Nem tu acreditavas, pai!”. Confirmo.


||| Segundo artigo desta série: Copos e cromos, discos e outras distrações para o confinamento de 2020, de A. Valdemar Oliveira.

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