Aires Almeida

Aires Almeida


Nasceu em terra de artistas paleolíticos (Vila Nova de Foz Côa) e é professor de Filosofia na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes (Portimão). Mestre em Filosofia pela Universidade de Lisboa e membro do Centro de Filosofia da mesma universidade, Aires Almeida é co-autor dos manuais A Arte de Pensar (Didáctica Editora) e autor de outros livros de filosofia e divulgação filosófica.

Diz o próprio:

Interessa-me quase tudo e todos aqueles com quem possa aprender algo, e que me permitam ser uma pessoa melhor do que sou — o que, pelo que tenho visto, até nem deve ser muito difícil. Tenho mulher, filho, outros familiares e amigos, além de livros e discos em casa, o que é, para mim, bastante animador. Procuro não acalentar nem defender ideias para as quais não encontro boas justificações. O resto, que é muito, é que é pior. Mas esforço-me por me libertar da carrada de defeitos que me atrapalham e tento conviver sem grandes dramas com os que, mesmo assim, não me largam.

Quanto ao resto, confessa ainda, não tem cor preferida; nem filme, nem livro, nem actores, nem música. E, na rede, costuma andar por aqui:

O meu baú propôs-lhe revelar-nos algumas das suas preferências. Agradeço-lhe que tenha aceitado.

O meu baú:

O navio onde viajas tem carga a mais. A ti, coube-te lançar à água dois dos 3 livros que levas (um de filosofia, um de música e um romance).

Aires Almeida:

O livro de música seria provavelmente o primeiro a tomar banho. Quanto aos outros, dependeria de que livro de filosofia e de que romance levasse no barco. Há alguns romances que prefiro a muitos livros de filosofia e alguns livros de filosofia que prefiro a muitos romances. Se o livro de filosofia fosse de Foucault ou Derrida, por exemplo, iria alegremente e sem problemas para a água. Mas entre um bom livro de filosofia e um bom romance, sem dúvida que continuaria com o livro de filosofia e deitaria à água o romance.

B:

Lançados os livros, ficaste com três objetos: o livro, um dvd com o teu filme preferido e um leitor de mp3 com uma coleção dos teus top musicais. Um deles também tem de ir para o fundo do mar.

AA:

O dvd seria o primeiro a ir ao mar, até porque não costumo ver o mesmo filme várias vezes. Depois, com muita pena minha, iria o mp3. Mas, assim que chegasse a terra, compraria outro. Ficaria com o livro porque tenho a certeza que me ajudaria a passar mais depressa aquele tempo de solidão.

B:

No dia dos namorados, recebeste um cheque-prenda para comprar um cd. Escolhe.

AA:

Iria escolher algo que ainda não tenho em casa: Bon Iver.

B:

Sabemos que, no dia do teu aniversário, uma das prendas foi a passagem para o formato eletrónico (ebook) de uma obra da tua biblioteca. Segreda-nos qual foi.

AA:

Neste momento dava-me muito jeito ter O Resto é Ruído, de Alex Ross, em formato digital no iPad. É um dos que estou agora a ler e assim poupava-me carga, que não é pouca.

B:

Tens de abandonar a profissão de professor. Mas não te apoquentes! Escolhe outra, que em qualquer caso terás carro (à tua escolha), cartão de crédito… e 600 mil euros anuais.

AA:

Uau! Em tempo de crise? A ganhar isso, só se fosse administrador não executivo (daqueles que vão lá uma vez por ano) de uma empresa pública e depois deixam um grande buraco financeiro atrás de si. Em todo o caso, qualquer profissão dava. Poderia ser, por exemplo, porteiro da escola onde sou professor. Ou, então, editor. E não precisava de carro. Já tenho um e chega bem.

B:

A Brigada dos Bons Costumes vai queimar-te a biblioteca toda. Toda, não: permite-te ficar com uma obra apenas.

AA:

Ficaria talvez com Naming and Necessity, de Kripke, pois ainda não tirei dele muito do que tem para tirar. Mas não garanto que não alterasse a minha decisão no momento em que a brigada cá chegasse.

B:

Os deuses estão fulos com a humanidade: vão destruir todas as cidades. Deixarão apenas ficar uma para tu viveres. Diz-lhes qual há de ficar de pé.

AA:

Não há volta a dar: os deuses, como de costume, são mesmo cruéis. Hesitaria muito, mas talvez escolhesse Roma.

B:

Estás condenado a escolher, sem hipótese de abstenção, mas apenas um: Sartre, Nietzsche, Tomás de Aquino.

AA:

Mesmo que me pudesse abster, não o faria: Tomás de Aquino, sem dúvida.

B:

Para a ilha deserta, só podes levar um destes três B: Bach (Johann Sebastian), Beethoven, Beatles.

AA:

Bach, com muita pena dos outros dois.

B:

Tens pozinhos mágicos que te permitem ressuscitar quem tu quiseres. Duas condições: só os podes usar uma vez; nunca em proveito de qualquer familiar.

AA:

Ressuscitaria David Hume. E se ele não quisesse, pediria talvez a Bertrand Russell o favor de se deixar ressuscitar.

 

Nota: esta é a primeira de uma série de revelações que pedi a alguns dos meus amigos. Leia as de Luís Rodrigues (a seguir).

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