[Não há discussão ou desacordo sobre a conduta de uma pessoa, a elegância de uma mulher, a justiça de uma sentença ou o agrado de uma comida, que não suponha a reabertura da problemática sobre os valores (Risieri FRONDIZI – Qué son los valores?)]
No final deste texto, alguns exercícios de AVALIAÇÃO.
A seguir, listam-se ALGUMAS IDEIAS/ATIVIDADES de apoio à rubrica OS VALORES do programa de Filosofia do 10º ano (ano letivo de 2011/12):
OS VALORES
— análise e compreensão da experiência valorativa [6 aulas de 90 mn (*)]1. Valores e valoração — a questão dos critérios valorativos
2. Valores e cultura — a diversidade e o diálogo de culturas(para ver todas as unidades/rubricas do 10º ano, clique aqui).
Faremos um percurso em torno de 3 conjuntos de questões:
I. A experiência valorativa faz parte do nosso quotidiano: facilmente abandonamos a neutralidade de uma frase como “Beethoven compôs 9 sinfonias” para a apreciação “A 9ª é a mais bela“; ou passamos da indiferença que supõe a constatação de que “Em Lurdes há um santuário” para a declaração “Devemos estar nele com respeito“. Beleza e respeito — estamos no domínio dos valores:
O que (não) é um valor? Como podemos reconhecer um valor?
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Um valor não é um facto. Um facto é uma realidade constatável ou um acontecimento suscetível de ser atestado por várias pessoas: coisas, pessoas, acontecimentos, instituições… Formulamos um juízo de facto [esclareça o conceito de juízo] quando descrevemos aquilo que vemos, ouvimos, sabemos: por ex., “Garfield é um gato“. Mas, ao afirmar “O meu vizinho é simpático“, formulei um juízo de valor.
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“Reconhecer um certo aspeto das coisas como um valor consiste em tê-lo em conta na tomada de decisões ou, por outras palavras, em estar inclinado a usá-lo como um elemento a ter em consideração na escolha e na orientação que damos a nós próprios e aos outros” (Simon Blackburn –Dicionário de Filosofia — elementos bibliográficos aqui). Os valores dependem das relações que as coisas a que são atribuídos têm com a pessoa que os atribui: o pôr do sol é belo porque me agrada.
- Portanto, um valor não é uma qualidade que pareça estar no objeto como a cor está na tela: não se olha a beleza de uma paisagem — olha-se a paisagem e é a maneira de olhar que revela a beleza (Ruyer). Ou seja: os valores não são qualidades sensíveis das coisas (ao contrário da cor, por ex.) — embora as propriedades valiosas estejam baseadas nas qualidades das coisas. Os valores também não são objetos (relógios, livros…) — embora atribuamos valor às coisas. Os valores não são ideias (como, por ex., os objetos matemáticos: a reta, o triângulo…).
- Os valores são bipolares (contrapõem-se num polo positivo e num polo negativo: verdade/falsidade; justiça/injustiça…) e hierarquizáveis (subordinam-se uns aos outros: uns valem mais do que outros. A justiça, por ex., vale mais do que a elegância)
[sobre estas características, pode ler Ensaios sobre o Progresso de Manuel García Morente). - Leia também o texto O conceito de valor, que aborda os valores como comportamentos preferenciais.
- Faça o exercício Facto e valor.
- Para uma visão diferente LEIA ainda o capítulo 14 (Valores) do livro Sabedoria sem respostas [dados bibliográficos aqui]. Nele os autores analisam a possibilidade de deixarmos de expressar os nossos valores (e os nossos juízos de valor) aos outros, substituindo os juízos de valor pelos juízos de facto — e ainda a possibilidade de deixarmos de pensar em juízos de valor em privado, para nós mesmos:
“Diz-se por vezes que uma vida sem valores seria impossível ou pelo menos não seria reconhecivelmente humana. Contudo, é interessante notar que se o leitor conseguisse abster-se de fazer ou pensar sobre juízos de valor, também os outros o poderiam. Em teoria, portanto, poderíamos ver-nos a nós mesmos e ao mundo sem valores, aparentemente sem nada perder que seja essencial às nossas vidas” (p. 152). Pelo contrário: acrescentar-se-ia “clareza e imediatez” (p. 154), abandonando o instrumento de autoilusão em que se pode transformar a valoração. “Despojado dos seus valores, o leitor ficaria nu, não mais julgando a sua vida valorativamente: vivendo-a apenas; não mais julgando a vida dos outros valorativamente: interagindo apenas com eles” (p. 155) [concorda com os autores? acha que é possível uma vida sem valores? que essa vida seria até melhor?]
Veja, no final, exercícios de AVALIAÇÃO.
II. As preferências e valores variam em função da pessoa, do grupo social e, sobretudo, da cultura (como diz o programa). Será possível, apesar disso, encontrar valores universalmente válidos?
O relativismo axiológico defende que os valores de uma pessoa ou de um grupo de pessoas são tão bons e tão válidos como os de quaisquer outras pessoas ou grupos (A. Lockwood – Visão crítica sobre a clarificação dos valores); tal teoria será correta — ou, pelo contrário, mesmo quando se trata de valores como o bem, o belo, a justiça…, os pontos de vista não são todos iguais?
- O capítulo 2 [O desafio do relativismo cultural] do livro Elementos de Filosofia Moral de James Rachels [elementos bibliográficos aqui] avalia 6 proposições apresentadas por relativistas culturais, tentando “identificar o que está correto no relativismo cultural” e “denunciar o que está errado” (p. 37):
- Sociedades diferentes têm códigos morais diferentes;
- O código moral de uma sociedade determina o que é correto no seio dessa sociedade, isto é, se o código moral de uma sociedade afirma que certa ação é correta, então essa ação é correta, pelo menos nessa sociedade;
- Não há qualquer padrão objetivo que se possa usar para ajuizar um código social como melhor do que outro;
- O código moral da nossa própria sociedade não tem estatuto especial, é apenas um entre muitos;
- Não há uma “verdade universal” em ética, isto é, não há verdades morais aceites por todos os povos em todos os tempos;
- É mera arrogância nossa tentar julgar a conduta de outros povos. Deveríamos adotar uma atitude de tolerância face às práticas de outras culturas.
- Vamos formular objeções ao relativismo…
III. Esteja o relativismo axiológico certo ou errado, a relatividade dos valores é um facto. Face a essa diversidade cultural (no que respeita aos valores), que atitude(s) assumir? atitude de tolerância? e o que é ser tolerante?
Neste contexto o quê devemos entender por conceitos como diálogo intercultural, tolerância, etc.?
- No dossiê Tolerância encontrará outros recursos de apoio a esta rubrica.
- [Brevemente, n’O meu baú, o texto A tolerância responderá à questão: ser tolerante é tolerar tudo?]
- [Num outro texto, Agostinho da Silva fundamentará a necessidade da tolerância].
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(*) Os tempos letivos previstos para a gestão de cada rubrica programática incluem os destinados a atividades de avaliação, dado que esta é parte integrante do processo de ensino e aprendizagem.
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Avaliação
- Estes temas/problemas são objeto de avaliação nos exames e outras provas nacionais (O meu baú tem uma página dedicada a exames e testes intermédios):
||| No exame de 2019 (1ª fase), grupo III: justificação de que uma determinada afirmação exprime (ou não) um juízo de valor
Gostei imenso do que acabei de ler. Não sou professora de filosifia, mas sou amiga. Posso usar?
Obrigada por nos continuares a tutelar 🙂
Ó Fátima,
gracias pelo “miminho”. 🙂
…e beijinhos.
Há algum tempo que não lecionava a disciplina de filosofia. Quando comecei o ano letivo já tinha um esquema “mental” sobre os temas, mas precisava de mais…precisava de ver as aulas de outros professores que lecionam a disciplina há mais tempo.
Fui então ao BAÚ e encontrei toda esta informação que me parece otima.
Aguardo as novidades no meu email.
Obrigada
Não tem respostas das atividades… Seria possível colocar , essa atividade sobre Faça o exercício Facto e valor.?