2020: Fechar os palcos, abrir os estúdios

Convidei alguns dos meus amigos para nos revelarem os seus top de 2020: livros, filmes, discos, notícias… o que entendessem que mereceria ser destacado.

A. Valdemar já tinha resumido 2020 em um livro, um vinho, um disco, um filme e… cromos. Regressa com 5 discos.


2020, um ano de excelentes discos

Todo este isolamento, os palcos fechados, os teatros desertos, não deixou de trazer uma vantagem – se assim se pode chamar: os músicos desataram a produzir trabalhos de estúdio, começaram a escrever e a compor música como se não houvesse amanhã. Por isso o ano de 2020 trouxe à luz uma quantidade de excelentes discos, como já não se via há muito tempo.

Mas não haja dúvidas, o primeiro disco a ouvir em 2020 devia ter sido a 9ª Sinfonia de Beethoven, para celebrar os 250 anos do nascimento do autor. Eu escolho a de Bernstein com a Filarmónica de Viena, na gravação da Deutsch Grammophon. Não é melhor nem pior que as outras, é apenas a minha escolha.

2020: Beethoven nasceu há 250 anos.

Eu sei que vão dizer que, depois da “nona”, o melhor é ficar em silêncio. Mas eu costumo brincar com os meus amigos, se o heavy-metal teve um “principio”, ele está no segundo andamento desta obra de Beethoven — se vocês ouvirem a versão dirigida pelo Karajan com a Filarmónica de Berlin, vão perceber onde quero chegar.

Ozzy Osbourne regressou, em 2020

Ozzy Osbourne foi vocalista dos Black Sabbath, uma banda dos 70 que é considerada a inventora do heavy-metal. Regressou em 2020, aos 72 anos, com uma coleção de músicas não tão pesadas como isso, mas rodeado de alguns dos músicos mais conceituados da atualidade: Elton John, Chad Smith, Slash e coiso e tal. Não fica mal depois de Beethoven.

Cá por Portugal, eu tenho uma paixão que é os Clã. É um amor que me acompanha desde há muitos anos.


Sabendo disso, o coletivo liderado – em sentido metafórico, note-se – pela Manuela Azevedo, decidiu oferecer-me um disco, este ano. Enérgico e intimista ao mesmo tempo, talvez lhe faltem alguns hinos pop, daqueles que ficam no ouvido à primeira. Não deixa de ser uma coleção de canções, que simbolizam bem este tempo em que vivemos.

E o grande poeta de todos os tempos, que vivemos agora e que já vivemos antes, não deixa de ser Bob Dylan, o senhor que nos obriga a escavar as canções, se queremos encontrar o que está no subsolo.

Não se iludam, aqui, nada é o que parece à primeira vista e Dylan já nos ensinou que temos de saltar a vedação, se queremos colher as frutas mais doces. As músicas têm de ser descascadas.

Dirão vocês, “é só velhos para 2020”!… Até parece. Mas deixei para o fim o disco das manas Haim, as meninas que têm feito algum do melhor pop da atualidade.

Este disco tem uma particularidade: as raparigas devem ter andado a mexer no baú de velharias dos pais e descobriram Velvet Underground, a fase “alemã” de David Bowie e outros ácidos do género. A pop ficou mais adulta, mais guerreira, mais perto da palha-d’aço que do Super Pop. Gostei muito!


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