Já aqui referi o filme 12 homens e uma sentença, propondo uma análise na perspetiva da argumentação ad hominem. O número 368 da revista francesa L’Étudiant (de junho de 2013) parte do filme para uma revisão do problema da verdade (a pensar nos estudantes do bac, “tratamento coloquial” do bacharelado).
O filme de Sidney Lumet apresenta 12 membros de um júri popular americano que deliberam, no final de um processo. Devem pronunciar-se sobre a culpabilidade de um jovem de 18 anos acusado de ter matado o próprio pai. A sua decisão deve ser unânime e, se o julgarem culpado, será condenado à cadeira elétrica. No início, todos os jurados, à exceção de um, estão convencidos da culpabilidade do acusado, de tal modo as provas são convincentes. À força de discussões, a dúvida instala-se pouco a pouco no espírito dos jurados.
O que é a verdade? Como estar seguros de não enganarmos?
O filme coloca o problema fundamental da verdade: como posso estar seguro de não me enganar? como se pode saber que se está na verdade? E, finalmente, o que é a verdade? Podemos começar por nos perguntar: no início do filme, quais são as provas da culpabilidade do acusado? São numerosas: uma prova material, duas testemunhas do assassinato, o álibi do acusado que não se mantém de pé, etc.. Podemos aperceber-nos de que há todas as provas sobre as quais repousam as verdades científicas mais seguras: experiência, demonstração, unanimidade, etc.. Ou seja, não há nenhuma razão para duvidar — e, no entanto, o filme acaba por mostrar que nos podemos sempre enganar.
Quais as diferenças entre opinião, crença e certeza?
Qual a razão para cada jurado acabar por mudar de opinião? Ao responder a esta questão, apercebemo-nos de que a maior parte das nossas certezas estão bastante mal alicerçadas. Alguns não têm mais do que preconceitos, outros não se colocaram verdadeiramente qualquer questão ou contentam-se com seguir a opinião geral. O filme permite fazer a distinção entre opinião-crença-certeza e mostrar por que é que aquilo que parece evidente pode ser falso.
A dúvida, a ironia e outras figuras filosóficas…
É possível procurar encontrar em cada jurado uma figura filosófica: o famoso jurado nº 8 (Henry Fonda) é o que duvida desde o início; permite compreender a filosofia dos céticos, bem como o modo como Descartes se serve da dúvida para descobrir a verdade. A ideia é simples: o melhor meio de saber se uma verdade é indiscutível é discuti-la. Depois, o “velho” é o primeiro a mudar o seu voto: por trás do seu ar de velho louco, encontramos a ironia socrática. Um banqueiro de óculos representa o espírito científico que não admita nada sem provas, e outros jurados são sofistas (o publicitário e o homem de chapéu mais preocupado com a partida de basebol).
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