Mário Rui Dias

Mário Rui Dias tem 39 anos, é natural de Viseu e professor contratado do Ensino Secundário no Agrupamento de Escolas de Penalva do Castelo. Algumas das suas preferências:

Baú:

O navio onde viajas tem carga a mais. A ti, coube-te lançar à água dois dos 3 livros que levas (um de filosofia, um de música e um romance).

Mário Dias:

Tudo dependeria dos livros que fossem mas, em abstrato, abdicaria do livro de música, na medida em que, embora ouvinte de música, não sou melómano e do romance, pois é necessária uma sensibilidade apurada e bastante cultura literária para entrever ideias em metáforas e sugestões simbólicas. Logo, não arriscaria e ficaria com o livro de filosofia.

B:

Lançados os livros, ficaste com três objetos: o livro, um dvd com o teu filme preferido e um leitor de mp3 com uma coleção dos teus top musicais. Um deles também tem de ir para o fundo do mar.

MD:

Embora goste mais de cinema do que de música salvaguardaria o mp3. A gestão da audição repetitiva de uma seleção musical é mais maleável do que o visionamento de um filme, sendo compatível com a dispersão que considero, recorrentemente, útil e agradável. Neste caso, em vez do conteúdo escolheria o suporte. Preservaria o livro por considerar que – mais uma vez abstratamente – se trata do bem cultural mais importante de todos quantos podemos imaginar.

B:

No dia dos namorados, recebeste um cheque-prenda para comprar um cd. Escolhe.

MD:

My funny valentine, por me parecer bastante adequado à data.

B:

Sabemos que, no dia do teu aniversário, uma das prendas foi a passagem para o formato eletrónico (ebook) de uma obra da tua biblioteca. Segreda-nos qual foi.

MD:

A República, de Platão. Obra de muitos livros, a tocar todas as questões fundamentais da vida humana acerca das quais se diz que tudo o que depois sobre elas se escreveu foi uma nota de pé de página. É claro, também se poderia pensar na Bíblia ou na Ilíada mas estes textos exigem uma leitura demasiado instrumentada para neles se entrar com consciência e proveito.

B:

Tens de abandonar a profissão de professor. Mas não te apoquentes! Escolhe outra, que em qualquer caso terás carro (à tua escolha), cartão de crédito… e 600 mil euros anuais.

MD:

A ideia de me tornar investigador bolseiro atrai-me. Há responsabilidade mas não há horários, é um trabalho predominantemente solitário em que não se tem de prestar contas a muita gente, abre possibilidades criativas e poder-se-ia adequar, com um pouco de sorte, aos meus interesses.

B:

A Brigada dos Bons Costumes vai queimar-te a biblioteca toda. Toda, não: permite-te ficar com uma obra apenas.

MD:

A República, de Platão, pelas razões acima apontadas.

B:

Os deuses estão fulos com a humanidade: vão destruir todas as cidades. Deixarão apenas ficar uma para tu viveres. Diz-lhes qual há de ficar de pé.

MD:

Viseu. É a única cidade que conheço bem. Para além disso, em qualquer outra me sinto mal ao fim de 72 horas. Se não pudesse ser, sugeriria Viena, que não conheço mas da qual tenho uma representação mítica.

B:

Estás condenado a escolher, sem hipótese de abstenção, mas apenas um: Sartre, Nietzsche, Heidegger.

MD:

Nietzsche. É fisicamente esgotante, induz tensão. Consigo reconhecer-lhe as questões ou os problemas, que me dizem respeito. Depois há o personagem, mais honesto, parece-me, que os outros dois que, apesar de tudo, “se deram bem na vida”. Isto não define uma obra, é certo, mas sou muito suscetível às biografias. Nietzsche não era um virtuoso nem deixou uma escola de “bem pensantes”.

B:

Para a ilha deserta, só podes levar um destes três B: Bach (Johann Sebastian), Beethoven, Beatles.

MD:

Conheço melhor os Beatles. Mas talvez levasse Bach. Beethoven soa-me a demasiada solenidade. É demasiado pesado.

B:

Tens pozinhos mágicos que te permitem ressuscitar quem tu quiseres. Duas condições: só os podes usar uma vez; nunca em proveito de qualquer familiar.

MD:

Não os utilizaria. A morte é um absoluto e a informação de que dispomos sobre quem quer que seja é sempre relativa e parcial. A injustiça que se cometeria seria sempre superior ao benefício de uma qualquer ressurreição.

Nota: esta é a sétima publicação de uma série de revelações que pedi a alguns dos meus amigos. Leia as de Vitor Guerreiro (a anterior) e Tomás Magalhães Carneiro (a próxima).