Um dia destes, um amigo pediu-me ajuda: queria comprar uma máquina fotográfica e perguntava-me por qual marca e modelo deveria optar. Depois de lhe recordar que não sou um profissional, respondi-lhe:
— Ó pá, compra aquela que faça o que pretendes fazer e tenha um preço que caiba no tamanho da tua carteira.
Chateou-se. Que eu não queria ajudar. “Não me venhas agora dizer que as máquinas são todas iguais”. Concordei que não são, mas acrescentei:
— Repara: se o que tu queres é, por exemplo, registar momentos/situações para os publicar no Facebook, a máquina do telemóvel chega-te. — Fez um sinal de enfado. Mas eu prossegui. — Do mesmo modo que não compras um Ferrari, se o que pretendes é um veículo para as pequenas deslocações até ao trabalho. A menos que queiras engatar as miúdas todas da cidade e tenhas a conta bancária a abarrotar de euros.
É claro que o sensor de uma máquina do telemóvel é demasiado pequeno, se se quer imprimir a foto num tamanho superior a um pequeno tamanho (digamos, 10×15). Mas também é claro que uma boa máquina, por si só, não faz um bom fotógrafo e há fotógrafos que fazem boas fotografias com máquinas “menos boas”: já vi fotos feitas por uma compacta de bolso bem superiores a outras feitas com… uma cara reflex. Porque, digamos, o que uma máquina faz são contas, matemáticas… o resto (a composição, por exemplo) é obra da mão — do olhar — do fotógrafo.
Mas o meu amigo não desistiu. Queria evoluir, disse. “Qual é a máquina que deve comprar quem começa?”. E eu teimei no mesmo princípio: “uma qualquer”. Encolheu os ombros. E eu acrescentei: “…uma qualquer que tenha controlos manuais“. Uma híbrida. Ou uma reflex
(em tempos que já lá vão, apresentei a Canon EOS 1100D como “excelente para principiantes”, uma máquina que por estar em fim de ciclo de vida — seja lá isso o que for, não tem importância para o caso — se encontra em campanhas de promoção a bom preço).
Quem se inicia nas lides fotográficas desejando “algo mais”, mais foto menos foto, quererá controlar a luz alterando a abertura do diafragma ou a velocidade de obturação ou a sensibilidade do sensor… Haverá de ter ocasiões em que prefere dar a prioridade à abertura; noutras, à velocidade; ou ainda decidir esses valores todos por própria conta e risco — manualmente… As minhoquices, que o fotógrafo comum só sabe que a máquina tem quando lê o manual
(e quem cumpre esse dever, que deveria ser obrigatório, de ler os manuais?)
— essas minhoquices custam dinheiro e é uma pena desperdiçá-lo quando não se faz uso delas.
E apontei o dedo ao meu amigo, antes de irmos tomar um café, que ele pagou por conta da consulta:
— Meu rapaz, onde tu deves investir é na objetiva. Compra uma boa objetiva! Eu disse uma. Uma de 50mm: como é uma objetiva fixa (não tem zoom), até ganharás (saúde) com o exercício físico de te aproximares ou afastares do que queres fotografar. Que tenha uma abertura grande (a da imagem anterior: 1.4), para poderes fotografar em ambientes com menos luz e teres um maior controlo sobre a profundidade de campo… E espera pelo momento de sentires a exigência de um daqueles canhões que se veem nas televisões e nas revistas da especialidade. Se esse momento chegar… Porque pode não chegar: o tempo te dirá das tuas preferências… Imagina que ficas fã da foto macro: o teu investimento será nas objetivas que as façam — e se, entretanto, tivesses esbanjado dinheiro nos tais canhões?
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Tenho consciência de que este é um texto polémico. Se o leitor não concorda comigo, por favor, diga-o na caixa de comentários (bem… se concordar, diga-o também).
Curto, incisivo e construtivo. Não se pode ser mais explicito que isso, embora quem venda, decerto não achará tanta graça. A relutância do amigo a meu ver, só pode ser por completo desconhecimento do que é a fotografia, não quer isto dizer que, eu seja um profissional, mas , começo a ver já alguma luz.
Parabéns
Manuel Silva
Boa ou fraquita câmara, eis a questão!
Como o Gomes diz, tudo depende do que se pretende da/com a fotografia.
Não me vejo a adquirir uma máquina toda XPTO porque simplesmente não sou um “artista” fotográfico mas um gajo que espera da câmara sobretudo o registo, o mais fiel possível, de memórias de sítios, situações, eventos, pessoas que de algum modo me sensibiliz(ar)am.
Então o que é que estou a fazer no workshop do Cavaleiro? :-))
Obviamente, querendo fazer o desmame do modo automático (que já não uso há que tempos), tenho que dominar o know-how alternativo…
Boas fotos, pessoal!
O problema é que uma objectiva standard de 50mm com f/1.4 (349€), custa muito mais do que uma zoom “standard” de 18mm-55mm com f/3.5-5.6 (149€)!
Meu caro amigo José Carlos, não pode comparar assim; uma objetiva 1.4 não é comparável com uma 3.5.
Veja só isto: uma Nikon 50mm f/1.8 custa pouco mais de 100 euros.